Toda palavra, antes que lhe conheçamos o significado,
é um enigma formidável.
(Manuel Bandeira)
Vivemos
em um mundo caracterizado pela mudança. É muito comum nossos pais relatarem com
saudosismo os acontecimentos de seu tempo e afirmarem que “a nossa geração é
diferente da geração deles”. De fato, nosso tempo tem sido marcado pelas
diversas divisões sociais, conflitos étnicos e relações sociais rápidas e
fragmentadas. A tecnologia tem modificado radicalmente a natureza, vivemos na
era das incertezas num mundo turbulento onde cada vez mais se fala em
crise. Entretanto, será que todas estas questões são apenas de “nosso
tempo”? Quando esta crise surgiu? Por que alguns problemas são mais frequentes
que outros? Cada um de nós possui distintas formas de explicação para estas
crises.
A sociologia, em especial, apresenta formas
diferenciadas de ver os problemas e busca fazer uma interconexão deles com o
contexto social sem, no entanto, determinar o comportamento dos indivíduos ao
meio.
Para entender a sociologia vamos
analisar o exemplo do divórcio:
Para muitos o divorcio é considerado um
“problema pessoal”. Entretanto, avaliando as estatísticas, evidenciamos que ele
tem crescido significativamente no Brasil, tomando grandes
proporções. Podemos concluir então que não se trata apenas de um problema
individual, trata-se de um problema social. Quais poderiam ser as possíveis conexões
de fenômenos que se relacionam a este fato?
A partir deste exemplo podemos
compreender que a sociologia está preocupada com os aspectos sociais e não
individuais, sendo assim, podemos conceituá-la:
Sociologia é o estudo da sociedade. Todavia,
somente esta definição é insuficiente uma vez que a História também estuda a
sociedade. Vamos lá: a sociologia é um estudo das relações sociais entre os
indivíduos e grupos, ou seja, preocupa-se com o comportamento social destes a
partir de “influências sociais”.
Exemplos: desde um encontro entre
dois amigos até as relações globais como uma rede social como o facebook.
De modo geral, nossa compreensão do mundo está intrinsecamente
relacionada a características familiares, muito do que aprendemos está
fortemente influenciado por forças históricas e sociais. Neste sentido, a
sociologia evidência a necessidade de assumirmos uma visão mais ampla sobre o
que somos e nos ensina a desnaturalizarmos aquilo que encaramos como natural,
inevitável, bom ou verdadeiro, uma vez que não existe uma realidade. Compreender
os modos sutis, porém, complexos e profundos pelos quais nossas vidas refletem
os contextos de nossa experiência social é fundamental para a abordagem
sociológica.
Diferença entre sociologia e senso
comum
Antes de problematizar esta relação, busquemos delimitar bem os espaços em que estamos “pisando”.
Primeiro:
a maioria das explicações que possuímos do mundo é reproduzida pelo senso comum
e é baseado nele que manifestamos muitas de nossas opiniões.
Este é um tipo de conhecimento. Dentre
outros podemos destacar:
Tipo de conhecimento
|
Características
|
Senso
comum
|
Superficial - conforma-se com a aparência, aquilo que se pode
comprovar simplesmente por estar junto.
Sensitivo - referente a vivências, estado de ânimo e
emoções da vida diária.
Subjetivo - é o próprio sujeito que organiza suas
experiências e conhecimentos.
Assistemático - a organização da experiência não
visa a uma sistematização das ideias, nem da forma de adquiri-las, nem na
tentativa de validá-las cientificamente.
Acrítico - verdadeiros ou não, a pretensão de que esses
conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.
|
Teológico/Mítico
|
O conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as
verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em
revelações da divindade, do sobrenatural.
|
Filosófico /metafísico
|
A Filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral,
interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do
universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito
humano, buscando até leis mais universais que englobem e harmonizem as
conclusões da ciência.
|
Científico
|
A ciência baseia-se em fatos para fazer afirmações, as quais são
refutáveis por meio de novas descobertas. Assim como a filosofia, precisa ter
uma coerência racional. Além disto, busca a proposição de modelos gerais
baseados em experiências empíricas.
|
O senso comum é um tipo de conhecimento
dogmático o qual acaba por encerrar a discussão. “Lugar de mulher é na
cozinha”. Ponto final. A principal diferença entre a sociologia e o senso comum
e que o senso comum tende a dar um ponto final nos assuntos estudados e a
sociologia, assim como os demais conhecimentos críticos, busca ampliar o
debate, sem esgotá-lo. Como similaridade elas tratam de temas bem parecidos. Na
maioria das vezes a explicação do senso comum precede à sociologia. Então esta
precisa do senso comum para tentar oferecer uma explicação alternativa.
Desta maneira, a Sociologia estuda
justamente o que parece ser óbvio para nós. Por esta razão, ela precisa
distanciar-se dos discursos do senso comum para ter o status de ciência. Para
tal, ela precisa de mecanismos de controle. São estas formas de controle que
proporcionarão que aquele conhecimento seja “científico”. Podemos apontar como
alguns mecanismos de controle da sociologia: a estatística, a pesquisa
histórica, entrevistas, vídeos e fotografias.
Embora o senso comum pareça inimigo da
sociologia, é principalmente dele que ela se nutre, buscando analisar, sobre
outra perspectiva, estes fenômenos. Tal relação ciência x senso comum é
inviável para outras ciências como a astronomia, uma vez que apenas os
especialistas têm acesso a telescópios e outros meios capazes de apreender os
astros. Ao contrário da astronomia, antes da “chegada” da sociologia,
houve o preenchimento de sentido do senso comum. Como exemplo disto, antes
mesmo do estudo de uma periferia, há vários sentidos daquele lugar que o
cientista precisa considerar apenas como ponto de partida e não como resultado
em si. Neste sentido, um dos impedimentos do entendimento da sociologia está no
fato de boa parte do que está sendo pesquisada por ela já foi preenchida de
interpretação pelos próprios indivíduos e reafirmados pelo senso comum.
Na medida em que a sociologia vai
ganhando contornos de nosso entendimento ela vai proporcionando uma articulação
com nosso cotidiano. O grande “barato” da sociologia está no fato da
possibilidade de articulação da interpretação sociológica à nossa experiência
pessoal. Sobre esta articulação o sociólogo americano Charles Wright Mills chama de imaginação sociológica.
Qual a diferença da sociologia para as
demais áreas do conhecimento?
Ao ingressar na biblioteca você reparou
que os livros de sociologia têm proximidade com os livros de História,
Geografia e Filosofia?
Você perceberá que isto tem um sentido.
Ciência
|
Objeto de estudo
|
Exemplo de método
|
Particularidade
|
Sociologia
|
Relações sociais entre grupos e
indivíduos
|
Observação sistematizada
|
Enfoca-se na sociedade
capitalista.
|
Psicologia
|
Comportamento individual
|
Entrevista Clínica
|
Surgiu no período próximo ao da
Sociologia.
|
Filosofia
|
Pensamento
|
Experimentações mentais, lógica;
|
É a mãe de todas as ciências.
|
História
|
Fatos históricos nas sociedades
|
Registros escritos e orais
|
Estuda as sociedades pré-capitalistas
e capitalistas
|
Geografia
|
As relações espaciais humanas e
físicas na superfície terrestre
|
Interpretação cartográfica
|
Aborda elementos sociais e
físicos do espaço
|
Estas disciplinas possuem algo em comum. Elas partilham, em diversos momentos, o
mesmo tema, com enfoques analíticos diferentes. Para que compreendermos melhor
a sociologia é preciso diferenciá-la destas outras.
Vamos fazer uma comparação?
É possível perceber que a relação entre
estas ciências é bastante íntima, de modo que em alguns momentos o tema será o
mesmo, mas a forma de abordagem será diferenciada. É provável que nenhuma
destas disciplinas relatadas dê conta de explicar a realidade em si na
totalidade. Todas necessitam umas das outras para ampliar o entendimento sobre
o assunto estudado na medida em que cada uma delas reflete uma forma de ver o
mundo.
Desse modo, podemos concluir que o mundo não se distingue dos fenômenos
em si. Não há um mundo sociológico, histórico, filosófico. O que há são formas
de enxergar o mundo. Estas formas de ver o mundo se relacionam e se completam.
Questões para reflexão:
1. Como poderíamos
resumir o que é sociologia em uma frase?
2. O que é senso comum?
Qual a relação entre sociologia e senso comum?
3. Qual a diferença da
sociologia para Psicologia, Filosofia, História e Geografia?
4. A frase “Qual a
relação entre casamento e religião?” poderia ser um problema que cabe a
sociologia. Cite outro problema sociológico envolvendo a sua cidade e seu
bairro.
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